Nelson Mandela e Jair Bolsonaro: A Comparação que Nunca Deveria Ter Sido Feita
- LR Adm
- 7 de ago.
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Em um movimento que causou indignação generalizada nas redes e entre estudiosos da história, Flávio Bolsonaro, senador e filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, comparou seu pai à figura icônica de Nelson Mandela. A afirmação, além de absurda, representa um insulto à memória de um dos maiores líderes da luta pelos direitos humanos e pela democracia no século XX. Este artigo tem como objetivo esclarecer por que tal comparação é histórica e moralmente inaceitável.
Quem foi Nelson Mandela?
“Nunca, nunca e nunca novamente esta bela terra verá o opressor dominar o oprimido.” — Nelson Mandela, discurso de posse, 1994.
Nelson Rolihlahla Mandela (1918–2013) foi advogado, ativista, líder revolucionário e presidente da África do Sul entre 1994 e 1999. Tornou-se símbolo mundial da luta contra o apartheid, sistema de segregação racial institucionalizada imposto pela minoria branca sul-africana.
Preso por 27 anos por sua atuação política, Mandela recusou-se a negociar sua liberdade em troca de renunciar à luta pela igualdade racial. Após ser libertado em 1990, conduziu o país à sua primeira eleição multirracial e democrática. Tornou-se presidente e promoveu a Comissão da Verdade e Reconciliação, liderando um processo histórico de perdão e reconstrução nacional, sem revanchismo.
Referências:
Mandela, Nelson. Long Walk to Freedom. Little, Brown and Company, 1994.
Tutu, Desmond. No Future Without Forgiveness. Image, 1999.
Quem é Jair Bolsonaro?
“O erro da ditadura foi torturar e não matar.” — Jair Bolsonaro, entrevista à Rádio Jovem Pan, 2016.
Jair Messias Bolsonaro é capitão reformado do Exército, deputado federal por quase 30 anos e presidente do Brasil entre 2019 e 2022. Sua trajetória é marcada por declarações controversas, apologia à tortura, ataques às instituições democráticas e retrocessos ambientais, educacionais e sociais.
Durante seu governo, Bolsonaro se destacou por:
Negacionismo na pandemia de Covid-19, o que contribuiu para mais de 700 mil mortes no país (The Lancet, 2022);
Ataques à imprensa e ao STF;
Incentivo a aglomerações e discursos de ódio contra minorias;
Tentativas explícitas de minar o processo eleitoral com fake news e ataques às urnas eletrônicas;
Investigação por participação em tentativa de golpe de Estado, que culminou nos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023.
Referências:
The Lancet, Editorial: “The Tragedy of Bolsonaro’s Brazil”, 2022.
Relatório Final da Comissão Parlamentar de Inquérito da Pandemia (Senado Federal, 2021).
Supremo Tribunal Federal – Inquérito 4879.
O que representa essa comparação?
A tentativa de colocar Bolsonaro no mesmo patamar de Mandela é uma forma perversa de revisionismo histórico. Equivale a comparar o opressor ao oprimido, o que prende a quem foi preso por resistir. É um insulto à memória coletiva da luta por justiça e liberdade.
Enquanto Mandela foi vítima de um regime autoritário, Bolsonaro defendeu abertamente um regime ditatorial no Brasil (1964–1985), exaltando torturadores como o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, condenado por crimes contra os direitos humanos.
Mandela é lembrado por sua capacidade de promover reconciliação sem rancor, mesmo após anos de injustiça. Bolsonaro, por outro lado, alimentou a divisão do país, rejeitou consensos democráticos e buscou deslegitimar as instituições em nome de um projeto autoritário e populista.
A banalização do heroísmo
Essa comparação revela uma das estratégias mais comuns do populismo autoritário: apropriar-se da imagem de mártires históricos para legitimar narrativas falsas de perseguição. Bolsonaro não foi preso por lutar por democracia ou justiça, mas é investigado por atentar contra elas.
Não há paralelo possível. É como comparar Martin Luther King Jr. a alguém que sabota eleições. Ou Gandhi a um defensor da censura. O que temos aqui é uma tentativa descarada de vitimização política, buscando encobrir os próprios atos e culpas sob o manto da injustiça.
A história não perdoa
A história é implacável com aqueles que tentam manipular seu curso. As palavras de Flávio Bolsonaro não apenas distorcem os fatos, mas também desrespeitam milhões que ainda hoje se inspiram na luta de Mandela por um mundo mais justo.
Nelson Mandela é sinônimo de resiliência, dignidade, coragem e paz. Jair Bolsonaro é símbolo de um período recente de sombras no Brasil, marcado por autoritarismo velado e ataques às liberdades fundamentais.
Compará-los não é apenas equivocado, é um desserviço à memória da humanidade.
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